ENSAIO SOBRE ELA
- Clara Bertoldo
- 29 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

Garota, as paredes souberam muito bem gravar todas suas histórias e lágrimas. Encaixotaram seus medos, guardaram seus poemas e os contos dentro da gaveta. Garota, a vi andando pelas Laranjeiras escrevendo seus devaneios nas ruas emburacadas, procurando certezas para suas incertezas em poemas alheios. Eu a vi sonhar e acordar de olhos abertos. Conheci suas indiferenças e seus orgulhos esparramados no chão feito café, manchando o tapete e poluindo a cozinha branca.
Vi seu coração sendo manchado e corroído, fedia forte.
Garota, você perdeu seu ofato. A enxerguei quando já não sabia apalpar as diferenças, o certo e errado. Não viu o medo chegar, não viu as histórias rastejando até suas paredes e fixando como super bonde. Meus recados batiam na sua porta mas o café manchado era forte demais. Meus versos esvaiam sem ao menos um beijo de boa noite, um aperto, um chamego.
Eu faria minhas palavras caírem feito chuva para que seus coração fosse límpido novamente. Como outrora nos pertencemos. Garota, lembro quando seu sorriso era mais forte que o raio de sol, meus clichês não feriam o tempo, nossa licença literária não precisava ser explicada por palavras, os versos do nosso peito explicava cada soneto de amor.
Garota, eu daria tudo para arrancar as histórias que enrijeceram nas sua parede, faria as flores nascerem novamente em seu peito, arrancar a covardia e transformar toda sua ausência em presença.
Deixa eu arrancar os contos da sua gaveta e reescrever meus poemas em suas desculpas esfarrapadas. Me deixa tocar seu rosto e mostrar as histórias percorridas em suas linhas. Deixe no tempo os tumultos da gaveta, afogue-o no lago, junto com sua desculpa, com seus pecados. Mergulhe em mim, enquanto, transformo teu ser. Deixa-me fazê-la minha e eu me darei por você todos os dias até a eternidade. Até lá, posso construir gavetas de madeira, guardaremos nossos contos, caminharemos em Laranjeira e descobriremos a vida
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